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sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Mixórdia à brasileira

Moro, num país tropical...e tenho uma nega chamada Teresa. Nesses versos do grande Jorge Ben Jor, que tem a Banda do Zé pretinho eis que trago a tona uma indagação, seria Jorge Ben racista também? Discutir a representação do negro na obra de Monteiro Lobato, além de contribuir para um  conhecimento maior deste grande escritor brasileiro, pode renovar os olhares com que se olham os sempre delicados laços que enlaçam literatura e sociedade, história e literatura, literatura e política e similares binômios que tentam dar conta do que, na página literária, fica entre seu aquém e seu além. Na verdade, não há necessidade alguma de se trazer a política para o âmbito da teoria literária: como acontece com o esporte sul-africano, elas estão juntas há muito tempo. Por "político" entendo apenas a maneira como organizamos conjuntamente nossa vida social e as relações de poder que isso implica. 
O maior erro da campanha contra o livro de Lobato é importar para a realidade brasileira a visão tosca e simplista dos defensores do “politicamente correto” nos Estados Unidos. Lá, o alvo predileto tem sido Mark Twain, pseudônimo de Samuel Langhorne Clemens, autor de obras-primas como Tom Sawyer e As aventuras de Huckleberry Finn. Este último é um retrato vívido – e nem sempre lisonjeiro – da cultura do sul dos Estados Unidos pré-Guerra Civil. Huck Finn, como é conhecido, foi escrito no começo dos anos 1880 e publicado em 1884. Narra as peripécias do garoto Huck, viajando pelo Rio Mississippi e pelos Estados do sul. A obra deu nova voz à literatura americana: o narrador personifica o espírito criativo, aventureiro, independente e humanista, mesmo diante da crueldade da escravidão. Pela primeira vez, o autor usou linguagem coloquial na literatura americana, com gírias e palavras específicas das comunidades ao longo do Mississippi. 
Em várias ocasiões, ele valorizou a preciosa contribuição dos negros à cultura brasileira. O conto Negrinha é uma denúncia contra a elite que, nos anos 1920, ainda estava saudosa da escravidão. Monteiro Lobato é intangível, respeitem-no, respeitem nossa história.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

O País das bananas ou dos bananas?

A banana é o fruto (ou melhor: uma pseudobaga) da bananeira, uma planta herbácea vivaz acaule (e não uma "árvore", apesar do seu porte) da família Musaceae (género Musa - além do género Ensete, que produz as chamadas "falsas bananas"). As bananas constituem o quarto produto alimentar mais produzido no mundo, a seguir ao arroz, trigo e milho. São cultivadas em 130 países. São originárias do sudeste da Ásia, sendo actualmente cultivadas em praticamente todas as regiões tropicais do planeta. Vulgarmente, inclusive para efeitos comerciais, o termo "banana" refere-se às frutas de polpa macia e doce que podem ser consumidas cruas. Contudo, existem variedades cultivares, de polpa mais rija e de casca mais firme e verde, geralmente designadas por plátanos, banana-pão ou plantains, que são consumidas cozinhadas (fritas, cozidas ou assadas), constituindo o alimento base de muitas populações de regiões tropicais. A maioria das bananas para exportação são do primeiro tipo, ainda que apenas 10 a 15% da produção mundial seja para exportação, sendo os Estados Unidos da América e a União Europeia as principais potências importadoras.
O cultivo de bananas pelo Homem teve início no sudeste da Ásia. Existem ainda muitas espécies de banana selvagem na Nova Guiné, na Malásia, Indonésia e Filipinas. Indícios arqueológicos e paleoambientais recentemente revelados em Kuk Swamp na província das Terras Altas Ocidentais da Nova Guiné sugerem que esta actividade remonta pelo menos até 5000 a.C., ou mesmo até 8000 a.C.. Tais dados tornam este local no berço do cultivo de bananas. É provável, contudo, que outras espécies de banana selvagem tenham sido objecto de cultivo posteriormente, noutros locais do sudeste asiático.
A banana é mencionada em documentos escritos, pela primeira vez na história, em textos budistas de cerca de 600 a.C.. Sabe-se que Alexandre, o Grande comeu bananas nos vales da Índia em 327 a.C.. Só encontramos, porém, plantações de banana organizadas a partir do século III d.C. na China. Em 650, os conquistadores Islâmicos trouxeram a banana para a Palestina. Foram, provavelmente, os mercadores árabes quem divulgou a banana por grande parte de África, provavelmente até à Gâmbia. A palavra banana teve origem na África Ocidental e, adoptada pelos portugueses e espanhóis passou também a ser usada, por exemplo, na língua inglesa.
Nos séculos XV e XVI, colonizadores portugueses começaram a plantação sistemática de bananais nas ilhas atlânticas, no Brasil e na costa ocidental africana. Mas as bananas mantiveram-se, durante muito tempo, desconhecidas da maior parte da população europeia. Por exemplo, note-se que Júlio Verne, na obra "A volta ao mundo em oitenta dias" (1872), descreve o fruto detalhadamente porque sabe que grande parte dos seus leitores o desconhece.
Algumas fontes referem que já existiam espécies nativas de bananeira na América pré-colombiana, que se designaria como pacoba, mas, em termos gerais, não é dado crédito a tal informação.
Feito essa introdução maximizada queria apenas deixar um questionamento no ar após a ventilação de novamente termos a CPMF como tributo. Somos o país das  bananas ou dos bananas?

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Os bueiros sujos do Brasil

Em reportagem do Jornal O Estado de São Paulo, segundo pesquisa, todos os bueiros das grandes cidades estão sujos e entupidos. Desse total, noventa por cento do lixo é fruto da ação humana do homem mais conhecida como "falta de educação". Depois reclamam das enchentes e do poder público, os políticos não dão exemplo, que então nós, povo, teremos que dá-lo ou, façamos a escolha de parar de reclamar e continuar enchendo os bueiros com nossas porcarias.

Para encerrar o assunto sobre "inleição"

              Sempre que acaba uma eleição, me vem uma saudade danada do Genésio, lá de Osasco. Aliás, ele não era de lá, ele era do sertão da Bahia. E conta-se que os pais dele chegaram com a trupe de imigrantes, um punhado de baianinho quase tudo do mesmo tamanho, e se acostaram lá na minha terra. Nesse tempo, o Genésio devia ter uns 14 anos e todo o pessoal dele trazia aquele sotaque arretado de quem nasceu nos fundões da Bahia.
Pois bem. Se acostaram por lá e ficaram, até restar apenas o Genésio, que devia ter uns 50 anos quando resolveu, por ser figura muito popular, se candidatar a deputado.
É preciso que se diga que o simpático Genésio era analfabeto de pai e mãe . E, além de tudo, apesar de já morar em Osasco, estado de São Paulo, e já ter vivido e convivido com meus conterrâneos paulistas uns 36 anos, mesmo assim o nosso Genésio não perdia aquele sotaque de baiano da molésta. Mas, como tinha adotado a minha cidade como sua, e por ela tinha um amor declarado, ai de quem tivesse a ousadia de falar mal da nossa terrinha. O Genésio era capaz de sair, como lá diz o outro, no pau com o dito cujo.
Isso posto, vamos à campanha política que deveria eleger aquele simpático baiano sem letras ao título pretensioso de deputado. Me lembrei do Genésio só pra contar o tanto que era curioso o seu discurso nos palanques de lá. Ele estava sempre acompanhado, como é natural, dos seus grandes cabos eleitorais, onde tem sempre aquele que dá os palpites apelativos ao pé do ouvido do candidato:
CABO ELEITORAL (ao ouvido do Genésio) – Fala da fome, Genésio.

E ele falava....

Mas o que era muito engraçado, e atraía a multidão da cidade aos seus comícios, era principalmente o bordão que o Genésio usava para abrir cada comício.

GENÉSIO (com o sotaque do sertão da Bahia) – Eu sou a fulô que nasceu na Bahia... e veio dá o botão aqui em Osasco.

Era risada geral.

GENÉSIO (em tom sempre discursivo) – A Assembléia ge-néis-la-tiva, de Sum Paulo, vai ter lá... se eu ganhá as inleição – um verdadêro trabaiadô para o povo. Vô trabaiá quiném um leão da Afra (África). E quem quisé vortá nimim... que vorte... quem num quisé vortá... qui num vorte... Agora... seu eu ganhá as inleição... ai daqueles qui estão iscondido atrás dos tôco (ameaçava todo mundo ingenuamente).

Nessas caminhadas discursivas, eis que o Genésio e seus comandados chegam até a cidade de Ituverava, que fica perto de São Joaquim. E lá também foi a mesma lengalenga.

GENÉSIO – Eu sou a fulô que basceu na Bahia e veio dá o botão em São Joaquim da Barra. Povo de I-ga-ra-pa-va.

CABO ELEITORAL (corrigia ao pé do ouvido dele) – Genésio! Não é Igarapava, é Ituverava!

GENÉSIO – Povo de I-tum-bi-ara...

CABO – Genésio! Você errou de novo. Não é Itumbiara e sim Ituverava!!!

GENÉSIO (encerrando o papo bem ao microfone, para todos ouvirem) – Dêxa de sê burro, ô cabo! Pois tu num sabe que cidade do interiô é tudo a mêma merda...

Claro que o querido Genésio perdeu as “inleição”.


Fonte : http://www.rolandoboldrin.com.br/causos_aberto.asp?id=40&id_cat=1

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Eu queria dizer, mas não posso

Existem várias histórias da ditadura, e hoje várias pessoas se vangloriam de ter participado do movimento que nos trouxeram para a democracia novamente. Eu realmente respeito a todos que lutaram por aquele ideal. Muitas vidas foram perdidas e os assassinos ainda andam por ai, livres, leves e soltos mas, esse é um assunto para uma próxima "blogada" hoje quero enaltecer os que lutaram, os que se exilaram (por conta própria ou via força).
Existe uma outra categoria mas, a essa eu não farei referência no momento pois não fazem jus mas, também tiveram sua valia. Eu sou nacionalista (mas crítico) sei onde erramos, mas amo essa terra, fico imaginando o que sentira Gonçalves Dias em sua canção do exílio "Minha terra tem Palmeiras, onde canta o Sabiá, como aves que aqui gorjeiam, não gorjeiam como lá" ou que pensaria Vandré quando em para não dizer que não falei das flores disse (ou melhor, cantou) "Vem, vamos embora que esperar não é saber, quem sabe faz a hora, não espera acontecer" enfim, que amrgo seria esse, querer se expressar e não poder, ou ser controlado, o Brasil é o pais da liberdade, ou pelo menos tornou-se, não retroagiremos (ao menos espero), prefiro ficar com os ensinamentos de Ulisses Guimarães que um dia disse "O poder não corrompe o homem; é o homem que corrompe o poder. O homem é o grande poluidor, da natureza, do próprio homem, do poder. Se o poder fosse corruptor, seria maldito e proscrito, o que acarretaria a anarquia". Doutor Ulisses estava certo, o homem é o que corrompe o poder, e se é assim,  vamos dizer não, sempre quando nos afrontarem, a liberdade de expressão é tudo, sem controle, livre, assim como a sabiá de Gonçalves Dias. A liberdade de expressão é apanágio da condição humana e socorre as demais liberdades ameaçadas, feridas ou banidas. É a rainha das liberdades, disse Rui Barbosa.




O Estado Laico

Aproveitando o debate eleitoral sobre os mais variados temas, escolhi o mais primitivo deles, a religião. A conquista constitucional da liberdade religiosa é verdadeira consagração de maturidade de um povo, pois, como salientado por Themistocles Brandão Cavalcanti, é ela verdadeiro desdobramento da liberdade de pensamento e manifestação.
A abrangência do preceito constitucional é ampla, pois sendo a religião o complexo de princípios que dirigem os pensamentos, ações e adoração do homem para com Deus, acaba por compreender a crença, o dogma, a moral, a liturgia e o culto.
O constrangimento à pessoa humana de forma a renunciar sua fé representa o desrespeito à diversidade democrática de idéias, filosofias e a própria diversidade espiritual.
Saliente-se que na história das constituições brasileiras nem sempre foi assim, pois a Constituição de 1824 consagrava a plena liberdade de crença, restringindo, porém, a liberdade de culto, pois determinava em seu art. 5º que "a Religião Católica Apostólica Romana continuará a ser a Religião do Império. Todas as outras Religiões serão permitidas com seu culto doméstico, ou particular em casas para isso destinadas, sem forma alguma exterior de Templo".
Porém, já na primeira Constituição da República, de 24 de fevereiro de 1891, no art. 72, § 3º, foram consagradas as liberdades de crença e de culto, estabelecendo-se que "todos os indivíduos e confissões religiosas podem exercer pública e livremente o seu culto, associando-se para esse fim e adquirindo bens, observadas as disposições do direito comum" Tal previsão foi seguida por todas as nossas constituições.
Assim, a Constituição Federal, ao consagrar a inviolabilidade de crença religiosa, está também assegurando plena proteção à liberdade de culto e as suas liturgias.
Salienta Canotilho que a queda de unidade religiosa da cristandade deu origem à aparição de minorias religiosas que defendiam o direito de cada um à verdadeira fé, concluindo que
"esta defesa da liberdade religiosa postulava, pelos menos, a ideia de tolerância religiosa e a proibição do Estado em impor ao foro íntimo do crente uma religião oficial. Por este facto, alguns autores, como G. Jellinek, vão mesmo ao ponto de ver na luta pela liberdade de religião a verdadeira origem dos direitos fundamentais. Parece, também, que se tratava mais da idéia de tolerância religiosa para credos diferentes do que propriamente de concepção de liberdade de religião e crença, como direito inalienável do homem, tal como veio a ser proclamado nos modernos documentos constitucionais".
Ressalte-se que a liberdade de convicção religiosa abrange inclusive o direito de não acreditar ou professar nenhuma fé, devendo o Estado respeito ao ateísmo. A discussão política portanto, não foi sobre religião e sim, ao dizer algo em um dia e mudar de posição noutro com interesses eleitoreiros como bem fazem nossos exemplares políticos.

*Alexandre de Moraes, ob. cit.